Caridade


Fora da Caridade não há salvação
(Cesar Reis*)

     Caridade é a palavra fundamental da Doutrina Espírita. Aparece mais de cinquenta vezes em O Livro dos Espíritos.



    Primeiramente a humanidade recebeu, através de Moisés, os dez mandamentos. Certamente que os homens não os entenderam e, muito menos, cumpriram o que ali estava definido.
      Veio Jesus e sintetizou os ensinos em uma frase: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Certamente que os homens não entenderam a frase e, muito menos, cumpriram o que ali estava definido.
     Agora vem uma nova tentativa do mundo maior, a síntese da síntese, numa só palavra: caridade. É a virtude que espiritualiza o ser humano. Enquanto a coloca o ser humano na estrada da evolução porque vincula suas vibrações com o mundo superior, a esperança faz com que o homem se levante após as naturais quedas no caminho evolutivo e retome sua trajetória. No entanto, o que luariza o ser humano, o que lhe dá a luz inapagável, o que lhe oferece efetivas condições de ascensão espiritual, é a prática da caridade.
     Paulo refere-se às três virtudes, que nossos irmãos da Igreja Católica definiram como teologais, e deixa claro que a caridade é a maior delas.
     A questão 886 de O Livro dos Espíritos define com clareza a questão da caridade tal como Jesus a entendia: “Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas.”  Logo após, em Nota, Allan Kardec esclarece: “A caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola, abrange todas as relações em que nos achamos com os nossos semelhantes, sejam eles nossos inferiores, nossos iguais, ou nossos superiores.”
     Bom refletir sobre essas três expressões que caracterizam a prática da caridade: benevolência, indulgência e perdão.
     Benevolência é formada de bene mais volo, forma irregular do verbo latino velle, querer. Trata-se de uma volição, de uma força íntima que nos faz querer bem ao outro, independente de quem o outro seja. Qualquer outro, para quem pratica a caridade, é um legítimo outro e, portanto, merece o nosso bem querer.
    Indulgência é um processo de adoçamento interior, vem do latim, indulgentia, significando apreço, concordância. Mais uma vez trata-se de um processo de aceitar o outro. Para tanto, evitar o atrito, a violência, a agressividade. Quando estamos cheios de amargura, o que sai de nós é amargo. Quando estamos cheios de acidez, o que sai de nós ácido é. Quando estamos cheios de doçura, nosso sorriso é doce, nossos gestos são doces, nosso olhar é doce, nossa voz é repassada de doçura. Não há caridade sem doçura.
    Finalmente, a terceira expressão que caracteriza a prática da caridade é o perdão. Também de origem latina – per mais a forma do verbo dono Per signifi ca completamente, de todo, além, mais além. O verbo dono significa dar, dar de presente, perdoar. Perdoar é um pouco mais do que dar. É doar-se.
    A caridade é o amor em ação, é a pedra de toque que dará a conhecer ao mundo os verdadeiros discípulos do Cristo “nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros”. Caridade brota da essência do ser. É impulso divino. É, portanto, exercício de divindade. Tal exercício será a nossa salvação, no sentido de purificarmos o nosso coração, lembrando as bem-aventuranças: “Os puros de coração verão a Deus”.

*CESAR REIS - Presidente do Instituto de Cultura Espírita do Brasil.
Presidente do Conselho Capemi - Instituto de Ação Social e da Capemisa.
Conselheiro do Lar Fabiano de Cristo.
Diretor da Revista Cultura Espírita.
Atua também no campo educacional como professor de matemática e autor de livros infantis.

Bibliografia:
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 1 ed. comemorativa do Sesquicentenário. Brasília: FEB, 2006. Livro III, Cap. XI.
JORGE, José. Índice remissivo de O Livro dos Espíritos. 1.ed. Rio de Janeiro: CELD, 1990. v.1.
PASTORINO, Carlos Torres. Sabedoria do Evangelho. 1.ed. Rio de Janeiro: SABEDORIA, 1970. p. 177 e 178.

Fonte: Revista Cultura Espírira - Ano II - n° 31 - Outubro/2011.





A Caridade
(Chico Xavier / Emmanuel)

Caridade é, sobretudo, amizade.

Para o faminto - é o prato de sopa.
Para o triste - é a palavra consoladora.
Para o mau - é a paciência com que nos compete auxiliá-lo.
Para o desesperado - é o auxílio do coração.
Para o ignorante - é o ensino despretensioso.
Para o ingrato - é o esquecimento.
Para o enfermo - é a visita pessoal.
Para o estudante - é o concurso no aprendizado.
Para a criança - é a proteção construtiva.
Para o velho - é o braço irmão.
Para o inimigo - é o silêncio.
Para o amigo - é o estímulo.
Para o transviado - é o entendimento.
Para o orgulhoso - é a humildade.
Para o colérico - é a calma.
Para o preguiçoso - é o trabalho.
Para o impulsivo - é a serenidade.
Para o leviano - é a tolerância.
Para o deserdado da Terra - é a expressão de carinho.

Caridade é amor, em manifestação incessante e crescente.

É o sol de mil faces, brilhando para todos, e o gênio de mil mãos, amparando, indistintamente, na obra do bem, onde quer que se encontre, entre justos e injustos, bons e maus, felizes e infelizes, porque, onde estiver o Espírito do Senhor aí se derrama a claridade constante dela, a benefício do mundo inteiro.

(Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Viajor. Ditado pelo Espírito Emmanuel. Araras, SP: IDE. 1985.)



Cântico do amor
(Carta de Paulo aos Coríntios)
 
1Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos,
se não tiver amor, sou como um bronze que soa
ou um címbalo que retine.

2Ainda que eu tenha o dom da profecia
e conheça todos os mistérios e toda a ciência,
ainda que eu tenha tão grande fé que transporte montanhas,
se não tiver amor, nada sou.

3Ainda que eu distribua todos os meus bens
e entregue o meu corpo para ser queimado,
se não tiver amor, de nada me aproveita.

4O amor é paciente,
o amor é prestável,
não é invejoso,
não é arrogante nem orgulhoso,

5nada faz de inconveniente,
não procura o seu próprio interesse,
não se irrita nem guarda ressentimento.

6Não se alegra com a injustiça,
mas rejubila com a verdade.

7Tudo desculpa, tudo crê,
tudo espera, tudo suporta.

8O amor jamais passará.
As profecias terão o seu fim,
o dom das línguas terminará
e a ciência vai ser inútil.

9Pois o nosso conhecimento é imperfeito
e também imperfeita é a nossa profecia.

10Mas, quando vier o que é perfeito,
o que é imperfeito desaparecerá.

11Quando eu era criança,
falava como criança,
pensava como criança,
raciocinava como criança.
Mas, quando me tornei homem,
deixei o que era próprio de criança.

12Agora, vemos como num espelho,
de maneira confusa;
depois, veremos face a face.
Agora, conheço de modo imperfeito;
depois, conhecerei como sou conhecido.

13Agora permanecem estas três coisas:
a fé, a esperança e o amor;
mas a maior de todas é o amor.




 

 

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